2025-10-02

RPG a la Carte

A contra-cultura do RPG

Um grupo de pessoas jogando RPG com várias anotações

Gerado pela IA Leonardo

Crocância e Roleplay

Será que sistemas crocantes realmente desencorajam o roleplay?
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Se tem algo que sempre me incomodou foi a noção de que sistemas mais mecânicos ou “crocantes” (aqueles que possuem grande volume de regras) desencorajam o roleplay. Eu nunca consegui entender esse ponto de vista, sempre me pareceu muito reducionista, e às vezes excludente. Talvez minha opinião seja a errada, mas eu sempre interpretei regras como sugestões para serem usadas em lugares onde não se tem certeza do que fazer no momento.

Para mim, a raiz desse problema seja a visão de muitas pessoas que as regras existem para limitar o que é possível em vez de demonstrarem o que é impossível. As regras existem para servir aos jogadores e narradores, e não o contrário. Se existem regras que não agradam o grupo, sempre existe uma das regras de ouro do RPG: se divirta! Regras sempre podem ser descartadas em favor da diversão do grupo. Alguns podem argumentar que ao fazer isso se perde a intenção ou visão do autor, mas eu particularmente não acredito que muitos autores queiram que a sua visão fique no caminho da diversão.

Vamos tomar como exemplo o teatro de improvisação: a parte mais importante são as regras do improviso! Ao colocar limites claros do que pode ou não ser feito, os atores são incentivados a serem criativos para poder mover as cenas para frente. Em momento algum elas restringem a capacidade dos atores em performar uma cena, apenas as atitudes deles que limitam o que pode ser explorado no palco.

Existe uma citação atribuída a Sanford Meisner, na qual atuar é “viver verdadeiramente sobre circunstâncias imaginárias”. As regras dos sistemas crocantes são as circunstâncias imaginárias que os jogadores estão se submetendo como intérpretes dos personagens. Com a definição do que é impossível, os jogadores têm a liberdade de imaginar e criar o possível, o fantástico, o inesperado e o improvável, e eu não trocaria nada disso.

Mas a pergunta que não quer calar: e os sistemas narrativistas? Minha resposta é simples: os melhores deles atingem o objetivo que se propõe. O sucesso de um sistema narrativista em promover o roleplay não tira do sistema mecânico a capacidade de ter interpretação, só demonstra uma intenção autoral diferente. Alguns jogadores só não querem se preocupar com certos detalhes do mundo imaginário que seus personagens estão inseridos, e isso é ok.

No fim das contas, se não há boa vontade em explorar a interpretação, não existe sistema que dê jeito.

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