As escalas de poder em RPGs são ferramentas estratégicas para criar narrativas de alto impacto. Elas facilitam a representação de confrontos entre personagens e criaturas de forças desproporcionais. Sistemas como GURPS, Fate, 3D&T e DC Heroes trazem suas próprias interpretações de escalas. Eles lidam com o desequilíbrio de poder. Isso ocorre sem comprometer a jogabilidade. Este artigo explora esses sistemas. Mostra como suas abordagens para escalas de poder tornam o jogo mais épico, dinâmico e acessível.
Por Que Utilizar Escalas em um RPG?
Escalas de poder ajudam a evitar cálculos excessivos e combates desequilibrados. Tornam viáveis a interação entre personagens humanos e forças colossais como dragões ou mechas. Isso reduz a complexidade para o GM (Game Master) e para os jogadores, mantendo a imersão sem sacrificar o desafio. A seguir, veremos como diferentes sistemas lidam com escalas e como essas abordagens podem ser aplicadas em sua própria campanha.
Análise das Escalas em Sistemas de RPG
O clássico que advém dos d20 e OSRs
Sistemas como D20 e OSR não utilizam escalas explícitas, mas ainda assim aplicam bônus e penalidades para dar vantagens e desvantagens em combates. A medição de algum atributo como força é feita aproximadamente linear. Para que algum personagem tenha uma Força muito alta, precisa ter um número equivalentemente alto para que os modificadores reflitam isso. Além disso, características narrativas influenciam os valores finais. Um halfling, por exemplo, pode ter uma Classe de Armadura (CA) alta devido à agilidade, enquanto um gigante recebe uma penalidade pelo tamanho já que é mais fácil de acertar. Embora eficaz, essa abordagem complica os confrontos entre personagens e criaturas de escalas muito distintas. Do que adianta ter CA muito alta como 25 ou mais quando todos tem o mesmo valor como no caso de níveis altos e bons equipamentos? Por outro lado, do que adianta somar +20 por exemplo se todo mundo também soma +20 para acertar? Em níveis altos de poder, esse tipo de número se torna insignificante. Não é a toa que o OSR tenta trazer a simplicidade e a mortalidade de valores baixos na contra-mão de sistemas d20 mais modernos como o 13ª Era. Cada vez mais dados e bônus com certeza fazem cosquinha no nosso cérebro reptiliano, porém em níveis altos os cálculos começam a fazer pouco sentido.
GURPS: Simulação com Elegância Matemática
No sistema GURPS (Generic Universal RolePlaying System), a escala de poder lida diretamente com o desequilíbrio de força entre personagens. A escala busca refletir essa realidade. O sistema sugere uma técnica prática para o GM ao lidar com forças desiguais. Ele ajustar o valor de um dos personagens a uma base de 10.
Se um personagem possui ST 34 e outro possui ST 50, reescalonar a ST de 34 para 10 ajuda a tornar a rolagem mais compreensível. Para ajustar a ST de 34 para 10, divide-se um pelo outro. Com o fator de 3,4 encontrado, é possível então ajustar a ST 50. Ela se torna 14,7 quando dividida por 3,4 resultando em rolagens de 10 contra 15 ao invés dos 34 contra 50 originais.
Este ajuste ainda mantém a diferença de poder ao mesmo tempo que torna os números mais “palatáveis”. Como a primeira Isso é especialmente útil em confrontos onde gigantes, máquinas, ou outros personagens massivos entram em cena.
GURPS permite então que o GM mantenha o realismo do nível de poder sem perder o simulacionismo inato desse sistema. Esse recurso é valorizado em sistemas onde a precisão e a simulação detalhada são essenciais para a narrativa. Em campanhas onde heróis enfrentam entidades poderosas, essa abordagem facilita o gerenciamento sem que a narrativa perca em verossimilhança.
Fate: Flexibilidade Narrativa
Já Fate utiliza escalas como parte de sua regra de bronze. Nela, tudo é tratado como “personagem”, portanto até mesmo estruturas massivas, como aeronaves ou castelos, recebem “atributos” similares aos dos jogadores. Em Fate, se um carro e um personagem possuem, por exemplo, Vigor +1, a escala diferencia o impacto de cada um. O carro em uma escala maior ganha bônus automático quando comparado a ao humano, mantendo o equilíbrio de forças.
Essa abordagem permite que o GM adapte facilmente o jogo para narrativas grandiosas, já que os atributos dos objetos e criaturas em escalas superiores aumentam de forma proporcional, refletindo o efeito esperado sem complicar a mecânica. Fortalezas, tanques e outros objetos ganham um lugar ativo na narrativa sem perderem a consistência do sistema. Em Achtung! Cthulhu, cada nível de escada diferente ganha +4 automaticamente nas rolagens que isso faça sentido. Imagine uma pessoa comum com escala 1 e um Avião Furtivo com escala 3 tendo ambos Furtividade +1. Se a pessoa tenta encontrar o avião em um desafio ou disputa, ele automaticamente ganharia +8 por motivos óbvios.
3D&T: Simplicidade por Multiplicadores
No sistema de RPG 3D&T (Defensores de Tóquio), as escalas são aplicadas através de multiplicadores que potencializam a progressão dos atributos. Isso significa que cada nível de escala aumenta o valor dos atributos de forma exponencial. Por exemplo, um personagem com Força 5 em uma escala normal seria o equivalente a 50 em uma referência linear. Essa simplificação torna o sistema mais ágil e ajuda a administrar as diferenças de poder sem a necessidade de cálculos excessivos.
3D&T é especialmente eficaz em cenários onde heróis enfrentam criaturas poderosas, permitindo ao GM criar criaturas épicas sem precisar se preocupar com valores exorbitantes. Isso deixa a narrativa ágil e o sistema manejável para confrontos frequentes entre heróis e criaturas colossais.
DC Heroes: Escala Exponencial em Detalhe
O sistema DC Heroes é notável por sua escala exponencial, com diferenças significativas entre cada nível de poder. A Força 3 é duas vezes maior que a Força 2 (força de um humano comum). Já a Força 27 representa o nível de super-heróis como Superman. Essa escalonamento facilita a comparação entre poderes extremamente distintos, preservando a coerência dos confrontos. Permite também que personagens de poder variado coexistam de forma justa.
DC Heroes é ideal para cenários que envolvem confrontos entre super-heróis e vilões com forças descomunais. A escalada exponencial gera um avanço controlado, mas ainda impactante. É perfeito para batalhas épicas onde o equilíbrio de poder precisa ser respeitado.
Aplicando Escalas de Poder em Suas Sessões de Jogo
Para uma aplicação prática das escalas de poder em RPGs, cada sistema oferece lições valiosas que podem ser aproveitadas nas sessões. Abaixo estão tópicos essenciais sobre como esses sistemas abordam as escalas de poder. Essa adaptação enriquece a narrativa. Ela também facilita o fluxo do jogo e realça as consequências de confrontos épicos.
Nivelamento de Poder e Referência Realista – GURPS
Reduza as Diferenças Extremas: Não use números elevados se todos os envolvidos são extremamente poderosos. Ajuste para valores menores e use a narrativa ao invés dos números para descrever esse nível de pode significa. Isso torna o combate mais compreensível e evita cálculos complexos.
Tudo Como Personagem – Fate
Objetos e Estruturas com Atributos: Fate permite que tudo na cena seja tratado como personagem, de fortalezas a criaturas gigantescas. Assim, crie características para uma fortificação ou uma aeronave como se fosse um personagem comum. Isso simplifica o jogo.
Bônus e Limites por Diferença de Escala: Aplique bônus para personagens com maior escala e defina limites claros para os outros. Um humano pode ter a Força máxima para um humano. No entanto, ainda assim não causaria danos a uma fortaleza de pedra. Já umm elefante, sim. Com isso, Fate reforça os limites do possível sem impedir a criatividade dos jogadores.
Escalas Exponenciais para Consequências Impactantes – 3D&T e DC Heroes
Aplicação Exponencial de Competências: Não aumente competências de forma linear. Cada nível a mais deve trazer um ganho exponencial. Isso faz com que, por exemplo, Força 15 seja significativamente mais poderosa do que Força 14, e não apenas uma adição de números.
Aplicando na Prática: Dicas Gerais
- Adapte a Escala ao Contexto do Combate: Se os personagens enfrentam uma criatura gigantesca, defina uma escala que torne o combate dinâmico e realista, sem excessos numéricos. Em combates épicos, use escalas distintas para grupos, exércitos ou criaturas para dar um senso de grandeza.
- Use Narrativas Visuais para Desigualdades de Poder: Ao invés de focar em valores numéricos em diferenças de escala, narre os impactos das ações. Um gigante atacando pode ter a Força ajustada. Contudo, as consequências épicas são descritas na reação dos personagens e no ambiente ao redor. Pode arremessar seus alvos depois do golpe ou fazer o chão tremer ao errar alvos.
- Crie Estratégias de Batalha com Escalas Exponenciais: Personagens podem enfrentar inimigos exponencialmente mais fortes. Incentive o uso de estratégias alternativas. Dessa forma, mesmo uma grande desvantagem em escala pode ser superada com inteligência. Isso mantém a tensão narrativa e a agilidade do jogo.
Conclusão
O uso de escalas de poder no RPG proporciona maior fluidez nas batalhas e combate ao desequilíbrio de forças de forma prática e direta. Cada sistema tem uma abordagem única para o uso de escalas. Essas abordagens têm suas próprias vantagens e especificidades. Elas podem enriquecer qualquer campanha com um toque narrativo mais simples ou com imersão profunda em combates épicos. Adotar escalas de poder na sua narrativa significa valorizar o tempo e a experiência dos jogadores. Ao mesmo tempo, adiciona um elemento dramático aos conflitos de seu universo de jogo.
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